É uma resposta que se caracteriza em forma de reações e sentimentos variados, ao rompimento de um vínculo significativo, seja ele concreto ou simbólico para o indivíduo, envolvendo uma gradual transição de ajustamento de um novo mundo, dentre novas reorganizações e mudanças permanentes, apresentando infinitas variações de respostas culturais, familiares e individuais, sendo essas bem singulares.
Os estudos mostram fases cruciais do processo do luto para manutenção da saúde mental, aprender a conviver com a morte e ter qualidade de vida, sendo elas:
- Aceitar a realidade da perda;
- Processar a dor do luto;
- Ajustar-se ao mundo sem a pessoa querida;
- Ajustes internos, externos e espirituais;
- Encontrar uma conexão duradoura enquanto segue a vida.
Todas essas fases a se passar do luto tem um objetivo em nossas vidas, como:
- Reconhecer a perda, reagindo à separação;
- Recordar e reexperimentar o morto e a relação sem que traga prejuízos emocionais e funcionais ao dia a dia;
- Abandonar os antigos apegos em relação a quem morreu e ao mundo presumido e a própria identidade, ambos impactados pela perda;
- Reajustar a forma a se adaptar em um no mundo sem esquecer do anterior e principalmente sem reconectar a dor da perda e conseguindo assim reinvestir;
Portanto o Luto se resume a um processo de readaptação da realidade após a perda simbólica ou concreta, seguindo uma nova vida reestabelecendo a retomada do equilíbrio abalado.
Dependendo de como se deu essa perda, o contexto dessa morte e a vulnerabilidade de quem a sofre, ela pode ser tão traumática para algumas pessoas ao ponto em que elas não compreendem a resolução do luto como uma transição para o desenvolvimento e ele passa a ser percebido como injusto e fora de controle, provocando impactos na saúde física e psicológica, desencadeando transtornos psiquiátricos e se configurando então o chamado de Luto Complicado.
O Luto Complicado se define quando existe dificuldade ou fracasso em pelo menos uma das fases do Luto Normal descritas acima, obtendo reações disfuncionais como crises de isolamento, insegurança, desesperança em relação ao futuro em fases desproporcionais a esses estados indicando um bloqueio da transição esperada dentro do processo.
É imprescindível uma avaliação especializada e individualizada para saber o estado em que a pessoa se encontra, para que seja guiada em seu processo de luto tanto normal de forma preventiva ao Luto Complicado quanto no mesmo para que haja um tratamento diferenciado fazendo com que a pessoa consiga passar pelo processo. É também necessário que se leve em consideração a intensidade, frequência e duração dessas manifestações desproporcionais ao Luto Normal.
Para uma boa elaboração do Luto e suas fases, é de suma importância os Rituais de despedida. Pois através destes a morte começa a ser percebida como real. As cerimônias coletivas unem amigos, familiares e conhecidos tanto do falecido quanto para quem realiza a cerimônia, trazendo um ambiente empático, solidário, acolhedor, sentimentos de compaixão pelo próximo, sensação de segurança e de que a pessoa que sofre a perda não está sozinha, de ser amada(o), trazendo senso de valor, fazendo com que pessoa externar seus sentimentos sem julgamentos, contudo isso favorece um processo saudável. Relembrar e celebrar quem partiu, ajuda a enfrentar a saudade e ensina a preservar o melhor da pessoa para sempre no coração. Esses rituais e seus símbolos assumem o papel das palavras que não saem para aqueles que tem dificuldade em externalizar e traduzir seus sentimentos. São importantes mesmo que nesses momentos de despedida não tenham só boas lembranças, mas como trazem o choque da realidade da finitude da pessoa querida.
ACONSELHAMENTO X PSICOTERAPIA DE LUTO
O Aconselhamento se dá no processo de luto normal para avaliar o sofrimento ou ajudar os indivíduos e suas famílias a se ajustar melhor em um período adequado. Já a Psicoterapia de Luto consiste em técnicas especializadas de intervenção que ajudam nas reações, nos sintomas desproporcionais de um luto complicado, até conseguirem entrar em um processo de enfrentamento normal.
Como o luto é considerado uma crise, um momento em que requer uma abordagem psicoterápica mais ativa, adaptativa, breve e focada, com os objetivos estabelecidos para diminuir o mais rápido que puder o sofrimento do enlutado, a psicoterapia EMDR (Dessensibilizarão e reprocessamento por movimentos oculares) que também usa técnicas táteis e auditivas, ampliando-se a pessoas com deficiência auditiva ou visual, tendo suas bases na neurociência e neurofisiologia, provou ser uma das mais eficazes no tratamento, modificando o funcionamento cerebral que está disfuncional e adoecido principalmente em áreas que são inacessíveis para uma psicoterapia mais comum e tradicional. Ela consegue processar memorias armazenadas de maneira disfuncional e que bloqueiam o acesso de memorias agradáveis em meio a reações de arrependimento, tristeza e culpa, que podem resultar em memorias intrusivas e pesadelos, trazendo emoções ruins de sentir, disparadoras no presente que interferem no processo de luto normal e no desenvolvimento de recursos e projeção de futuro, trazendo consigo a desesperança. A EMDR consegue fazer com que o paciente fique no presente enquanto flutua em memórias do passado mesmo que estejam inconscientes, trazendo-as para consciência e reprocessa-las, trazendo autocontrole e habilidades de relaxamento, estabilidade, aumentando a fonte de recursos e de controle dando destaque a projeção do futuro para que permita o paciente imaginar desafios futuros e processe a tensão, resistência e/ou bloqueio presente em relação ao mundo e a morte e/ou separação de seu ente querido.
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